I love smartphone


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Sempre é tempo de ressignificações. Alguns momentos em maior intensidade. É o caso de agora.
Tenho vivenciado e observado diversas facetas da vida adulta que e têm sido decisivas nas escolhas de minha vida. Avaliações e reavaliações que, por ora tendiam para pessoas, mas que acabaram resvalando em uma segura autoavaliação de diversos aspectos.
Um deles, em específico, gostaria de compartilhar aqui.


     Há cerca de duas semanas atrás eu estava procrastinando na internet e encontrei um texto que falava sobre o uso excessivo de smartphones. Me identifiquei na hora.
    Mesmo que tenha realizado há meses atrás uma limpa de aplicativos inúteis e viciantes que roubavam muito do meu tempo, me desfeito do facebook e me policiando quanto ao uso do whatsapp, resolvi instalar um aplicativo chamado Breakfree, que faz uma checagem de quantas vezes o usuário desbolqueia o celular e transforma os dados em gráficos diários, semanais e mensais, que calculam a quantidade de horas de uso. Bom, por mais que eu já estivesse maneirando, me surpreendi ao ser diagnosticada pelo app como uma viciada em potencial. Num único dia desbloqueei o celular mais de 80 vezes e foram contabilizadas 5 horas de uso.
          É muito tempo perdido. É claro que necessito da internet, seja para trabalho, comunicação ou entretenimento. Mas, repito, é muito tempo perdido no dia com uma vida virtual, com um instrumento. E as pessoas de carne e osso aqui ao meu redor? Que tempo fica pra elas, se já não tenho as 8, 10 horas dedicadas ao trabalho, as outras tantas para atividade de produção, estudo, resolução de problemas diários, enfim, as coisas cotidianas que levam as nossas horas? Quase nenhum.
     A cada dia, a cada ano que passa, nós perdemos dias e também pessoas pelo caminho. Eu estava rindo sozinha lembrando a expressão de uma amiga numa conversa comigo, falando sobre a minha incursão “sabática”. Ri porque é bem isso mesmo. Tempo sabático. Acho que sempre tive os meus, mas este está me parecendo mais longo e enriquecedor. Tão bom se autoconhecer, poder refletir pra melhorar, ficar sozinho nalgum lugar silencioso e ouvir apenas meus pensamentos, ouvir o silêncio, ouvir Deus.
                Mas, voltemos ao celular. Analisei e analiso o comportamento de muitas pessoas, mas principalmente o meu. A selfie se tornara um vício. Mostrar, mostrar e mostrar sempre. Seja um lugar bacana, uma comida, uma maquiagem, uma roupa nova, enfim, mostrar uma alegria, uma revolta uma opinião. Isso é humano, sim. Mas não podemos viver expectando para os outros, como uma vitrine, em busca da perfeição. Agora quero calar. Quero ser invisível. Quero quebrar as amarras desse vício que nos aproxima dos outros e nos afasta de nós mesmos. Nunca quis ser vitrine, ter minha vida tão aberta a ponto de ter conselhos e pitacos de desconhecidos. Um vício que assumo, é meu e que preciso dar conta. Eu não sou o que eu publico numa rede social. Eu sou um conjunto de coisas, muito complexas para serem tão facilmente definíveis.
                Experimento, pois, sair sem levar o celular. Não registrar por meio de fotografia que não seja a dos meus olhos. Tem sido aflitivo, não será assim sempre, mas preciso desintoxicar e me lembrar de 3, 4, de 10 anos atrás em que eu não precisava de nada disso. A vida de verdade acontece fora do celular, é longe da internet. Fico revoltada ao pensar no quanto Mark Zuckerberg e o povo do Google sabem da minha vida. Eu quero voltar a ser surpreendente, caixinha de surpresas.

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             O meu desafio é encontrar um meio termo, ou um meio menos nocivo de me relacionar com meu smartphone. Uma decisão importante e que é inarredável é a de que ficarei com o mínimo possível de redes sociais. Isso evita exposição e poupar o tempo alimentando-as. A verdade é que não quero ser misantrópica, pelo contrário, me deu saudade das pessoas inteiras numa conversa. Num papo olho no olho numa mesa de bar sem ficar pegando o celular de cinco em cinco minutos. Eu já vivi isso, é possível.
                  Evoluir não é retroceder em humanidade, não pode ser. Nós acabamos vestindo couraças e arma(duras) desnecessárias para viver a vida e nos relacionar com as pessoas. Desconfiamos mais, decepcionamos e nos decepcionam com uma rapidez digital, competimos por roupas, nível de intelectualidade, rol de amizades e influencias, vivemos cheios de filtros e guetos, perdemos nossa espontaneidade e a vida pesa ainda mais.
      

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              Nós sobrevivemos sem celular, sem aplicativos e redes sociais. Eles facilitam nossa vida, mas não dizem sobre o que somos, não podem nos definir. Aliás, me pergunto sobre o porquê dessa constante necessidade de afirmar o tempo todo quem somos. Eu não quero aplausos, não quero fãs, curtidas, não quero multidões. Fiz uma escolha muito segura. Não sirvo para o show business. Minha vida é minha e pretendo compartilhá-la o mínimo. Doeu, foram 26 anos de aprendizado e mais dois de transição para decidir estilo de vida, porque a sua formatação é diária e pode sofrer mais mudanças, mudar sempre, enquanto houver vida.
            Ainda ontem eu medi o meu Breakfree. E me surpreendi com os dados: 18 desbloqueios e apenas 1 hora e meia de uso contabilizado. O que eu ganhei com isso? Tempo, uma das coisas mais preciosas que temos depois dos 20 e poucos anos.
                   Mas vou parar as elucubrações existenciais por aqui, já me alonguei para além do pretendido. E fico realmente feliz de ter este espaço pessoal para compartilhar minhas experiências de vida com quem dedica tempo para lê-las. Espero que edifiquem, pois a mim edificam e constroem diariamente. Fortalecem e me incentivam nessa vida de adulto que por vezes me assusta.

   

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Ana Paula Duarte

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