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Mostrando postagens de agosto, 2010

Margot e a tortura*

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     IMAGEM DO GOOGLE Todo segundo semestre do ano a mãe de Margot inventava de levar a menina no salão de beleza. Era uma verdadeira tortura, até que Margot teve a sorte de sua mãe ter conhecido uma  cabeleireira  que começou a cortar o cabelo da menina em casa mesmo. Só que naquele mês, essa amiga de sua mãe havia viajado e Margot ia ter que ir ao salão de beleza do outro lado da cidade para cortar o cabelo. Por ela esperaria o retorno de sua cabeleireira particular, mas sua mãe em polvorosa, dizia que " Essa palha muito feia tem que ser cortada, parece desleixo!" e a menina tinha que acatar.     Lá se  foi Margot com sua  mãe para o salão de beleza, lugar inclusive, onde sua mãe sentia-se muito a vontade. E lá estavam muitas mulheres. Umas bonitas, umas feias e umas mais ou menos. Mas Margot tinha uma certeza "São todas umas malucas", cochichava com a mãe. E a mãe lhe dizia "Um dia você vai me pedir de joelhos pra eu te trazer aqui, e seu pai

Um pôr- do- sol

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        E eu me lembro com riqueza de detalhes daquela primavera de novembro. Onde pela primeira vez desabrochei de verdade, foi quando avistei o Flamboyant como muito além de uma árvore qualquer. Fui demasiadamente eu e creia, ninguém jamais terá meu ser tão sendo como naquele tempo.        Em cada loucura que fazíamos, eu consciente do instante, tinha certeza que passaria e me agarrava ao sol, à grama, ao vento. Nunca fui tão natural, soltei os cabelos, retirei as pinturas, estava transparente, vulnerável, livre e não tinha medo.        E nos deixamos ser, numa dança mística e curta, porém intensa, cheia de cores e cheiros, ah, o cheiro...Por vezes relembro, o olfato é meu outro guardador de lembranças, teu cheiro nada convencional, o aroma da ganja jamaicana que tu consumia. Teus cabelos de arcanjo, tua flauta doce, teu doce. Tudo aquilo tão estranhamente pacífico não só me facinava, mas me fazia bem, um bem tênue, um bem único.           E quando nos jogávamos por horas,

Margot e seu mundo encantado

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         Margot amanhecera com febre e gripe justo no dia do passeio escolar ao Parque da Ciência. Ela nem gostava de passeios a parques e museus, onde os guias aperfeiçoavam-se em falácias. Ela gostava era de sair com a turma, bagunçar no ônibus, comer a farofa alheia e bater nos meninos.          E naquele dia, ficaria ali, reduzida a seu quarto, com sua mãe a mencionar as restrições e toda blablablalogia médica. Ninguém merecia. A pobre criança mal era vista na cama, com tantos lençóis e cobertas de lã que a cobriam. Não podia brincar, não podia sair, nem tomar sorvete (seria o suicídio!). O que tinha para fazer? Assistir televisão. Assistiu o reprise do Pica-Pau, As espiãs e O Sítio do Pica-Pau Amarelo, aí começou o jornal com toda aquela chatice que não atraía Margot. Ela queria pular, pentelhar, mas estava ali, de molho... Acabou dormindo e sonhando,  mergulhou na dimensão do seu mundo paralelo, o mundo mágico de Margot, aquele que todas as crianças tem e que governam com ino

Margot e a bicicleta

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     Margot era espoleta, hiperativa ao extremo, esperta e por isso, o terror da redondeza. Seus pais já haviam levado a menina ao psicólogo, centro espírita, psicopedagoga...Mas nada fazia a menina largar de ser agoniada. Se ia na casa dos avós, quando voltava eram mil broncas e esporros, Margot perturbava a vizinhança, acordava o avô que tirava sua sesta, batia no primo pequeno, soltava os cachorros, quebrava os brinquedos...Ela até ficava sem graça e muitas vezes triste. Mas Margot só sabia ser assim. E mesmo já tentara ser mais sensata, menos destrambelhada, mas quando isso acontecia,  não demorava muito tempo, era quase nato, parecia um ímã que a puxava para as grandes confusões.     Certo dia, a prima mais nova de Margot ganhou uma bicicleta. Ela tinha passado de ano com notas louváveis, enquanto que Margot, passara arrastada com médias nada orgulhosas. Mas Margot também queria uma bicicleta. Seus pais logo entortaram os lábios quando ela fez o pedido. "Não, n

Pintura

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Cobri meu rosto de protetor, base, pancake... Abusei do blush, delineei meus olhos e lábios Enchi-me de mimos, acessórios, hidratantes, perfumes... Essa fui eu. --------------------------------------------------------- De repente, Borrou toda a pintura, o lápis, escureceu minha face, o blush manchou as bochechas o pancake me envelheceu. E os acessórios perderam a cor... --------------------------------------------------------- Prendi os cabelos, Lavei o rosto, olhei-me no espelho Cara limpa, imperfeições à mostra Nunca me enxerguei tão plena! --------------------------------------------------------- Há certas pinturas escondedoras de beleza São máscaras que nós mesmos criamos Mas que não ascendem o brilho natural que nos acompanha. Ana Paula Duarte

Elucubrações 1*

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Nunca mais é um tempo tão pretencioso e definitivo. Nada pode ser assim. Em pensar que nunca mais, nunca mais tantas coisas! Umas para o bem, outras para deleites, outras, sem utilidades, outras, pertubadoras de paz, titubeantes... O nunca é nada, e o mais o que é? E novamente pergunto, o que é PERFEITO? Silêncio. Não direi do que não sei. Posso apenas garantir verdade, lealdade e um pouco de loucura (talvez muita, você sabe voar?). Disso posso falar, porque assim sei viver e de todos os modos pelos quais pelejei, cheguei a este estado atual, imperturbado, contrito e celebrante da vida. Por isso que não quero ousar dizer nunca mais. É deveras perigoso, é vidência de bêbado descarado. Mais silêncio. Mais silêncio e mais silêncio. Nunca pensei que fosse gostar tanto. Uma unção preciosa de sabedoria parece enfim ter dado o ar da graça...Decidir por outros caminhos! A rotatividade da vida não espera, tudo pode acontecer, pois a própria vida veio mostrar qu